Ligação e Operação
4. Ligação e Operação
4.1. Ligação dos Equipamentos
Antes de explicar as ligações propriamente ditas, vamos abordar mais um conceito importante. Usamos vários equipamentos num sistema de som: efeitos, compressores, equalizadores, gates, enhancers, etc. Nos efeitos, o sinal normal (sem efeito) é misturado com o sinal processado (com efeito), o que chamamos de processamento paralelo, ou seja, mixamos o sinal original e o processado. Equalizadores e processadores de dinâmica recebem um sinal em suas entradas, o modificam e apresentam um novo sinal na saída, deixando de lado o sinal original; a isto chamamos processamento serial.
As saídas dos efeitos voltam para a mesa em entradas específicas como as AUX Returns ou em canais comuns. Os processadores são ligados no caminho entre a mesa e o amplificador ou nos inserts da mesa, o que produz o mesmo resultado.
Eis um esquema de ligação típico para um sistema de som:
Ligamos microfones, instrumentos e playbacks na mesa. Como já comentamos quanto aos efeitos, mandamos o sinal da mesa para eles através de uma saída auxiliar e retornamos por um canal ou aux return. Ligamos os processadores um seguido do outro, ou através de cabos Y nos inserts. Na primeira maneira ligamos a saída de um equipamento na entrada do próximo. Quando utilizamos inserts, ligamos o “pé” do Y no insert desejado da mesa e ligamos as outras pontas, conforme a pinagem mais adiante, na entrada do primeiro equipamento e a outra na saída do último; interligamos os equipamentos com cabos da saída de um para a entrada do outro. A vantagem de utilizarmos os inserts das mesas é de manter um cabeamento mais organizado, além de facilitar a utilização do multicabo que pode ser ligado só na mesa, sem precisar ser esticado até um rack. Após os processadores, o sinal chega as potências, indo então para as caixas acústicas. PA e retorno utilizam potências e processadores diferentes; os retornos são ligados a partir das saídas auxiliares e as potências a partir do master da mesa.
P.A. é abreviação de “Public Address” e é o som que é dirigido ao público. Os sides são uma espécie de mini P.A. que funcionam como retornos e são encarados como tal. Dentro desse esquema podemos ligar uma aparelhagem simples com mesa, equalizadores (PA e retorno), compressores (PA e retorno) potências e caixas (PA e retorno); ou qualquer outro sistema mais completo e complexo, com dúzia de equipamentos de efeito e processadores.
Obviamente alguns equipamentos possuem seu lugar correto nesse esquema. Por exemplo o mais usual é deixar compressores gerais (para master e auxiliar) após equalizadores e imediatamente antes do amplificador ou, caso exista, antes do crossover. Ficando a sequência para P.A. e retorno: mesa - equalizador - compressor - amplificador - caixas acústicas. A próxima figura mostra um exemplo de ligação de um sistema de sonorização. A sequência crossover-amplificador-caixas será explicada logo a seguir.
Quanto aos crossovers, há duas maneiras de ligá-los. A primeira e mais utilizada, aliás, no geral, mais recomendada, é antes de todos os amplificadores. No desenho temos o esquema para a ligação de uma caixa full-range com divisor de frequências interno e uma caixa externa de sub-graves, utilizando um crossover externo de 2 vias. Esse é um tipo de ligação muito comum e devemos nos lembrar de que as caixas de graves e sub-graves têm melhor desempenho quando estão no chão. Se utilizássemos um crossover de 3 vias teríamos mais um amplificador ligado a mais uma caixa.
Outra possibilidade para essa configuração de PA é ligar o crossover como se fosse um “bass-booster”, sem cortar os graves das caixas full-range. Note que utilizamos a entrada do primeiro amplificador para ligar o crossover.
Ao instalarmos um equipamento de áudio devemos tomar cuidado com a parte elétrica, pois ela pode ser fonte de interferências além de poder colocar o equipamento em risco quando mal feita. A instalação elétrica deve ser adequada e com bom aterramento, que é extremamente necessário. Por melhor e super-dimensionada que possa ser a instalação elétrica, devemos sempre utilizar filtros de linha e estabilizadores para os equipamentos.
Outro cuidado de suma importância é a utilização de bons cabos de áudio. O cabo deve possuir malha bem trançada, que não se desfaça sozinha “só de olharmos para ela”; acredite, isso acontece em muitos cabos. Seus condutores internos (+ e -) devem ser trançados e suas capas devem ser siliconadas, além disso a capa externa não deve ressecar facilmente. Quanto aos plugues, devem ser metálicos, resistentes e de tamanho (diâmetro) proporcional à bitola do cabo a ser utilizado. Procure utilizar plugues banhados a ouro, por possuírem durabilidade maior.
Os cabos de áudio podem ser desbalanceados (positivo e terra) ou balanceados (positivo, negativo e terra). Os cabos balanceados são mais imunes a interferências e podem ter comprimentos maiores, além das conexões balanceadas possuírem um nível mais alto de sinal (ganho de 6dB). Devemos usar ligações balanceadas sempre que possível. Utilizamos a malha do cabo para o terra, a cor quente para o positivo (vermelho) e a cor fria para o negativo (preto/branco); quando o cabo é desbalanceado podemos ligar o negativo com a malha. Nas figuras vemos a pinagem dos plugues XLR, que ainda são chamados por muitos de cannon, que nas verdade é uma marca. Vemos também a pinagem dos plugues P10 (plugues de guitarra). Lembrando que as mesas inglesas possuem os pinos + e - (2 e 3) do conector XLR invertidos.
A pinagem dos cabos Y para uso nos inserts das mesas é a seguinte:
É importante que os cabos sejam bem soldados (não tenham solda fria). Também é sempre bom testá-los antes de utilizá-los, dado que um cabo em curto pode danificar a saída de um equipamento, ou dar uma boa dor de cabeça a quem estiver procurando o problema. Não se deve soldar a malha à carcaça do plugue XLR (a tira de metal oposta ao pino 3).
Cabos e mais cabos, vamos falar dos multicabos. Por dentro dessas “mangueiras pretas” passam vários cabos juntos, de modo a facilitar a instalação dos sistemas de sonorização. A cada um desses cabos nos referimos como vias do multicabo. O uso mais típico e mais necessário é a interligação da mesa até o ponto de ligação dos microfones e instrumentos, geralmente o palco; mas também podemos usar outros multicabos como extensões do multicabo principal. Na ponta onde ligamos os cabos, há uma caixa que pode ser chamada de banheira, medusa, ou snake.
No multicabo podemos ter sinais indo e voltando ao mesmo tempo, ou seja, os sinais dos microfones e instrumentos vão até a mesa de som pelo multicabo. Os sinais para os retornos e para o PA voltam pelo mesmo multicabo até os amplificadores, ou crossovers. Jamais utilize sinal amplificado no multicabo pois isso traz uma série de problemas. Quando da instalação (passagem) do multicabo, evite cruzar com fios elétricos ou dar voltas excessivas; procure o caminho mais curto e deixe o multicabo bem protegido.
Algumas derradeiras considerações são fazer-se uma instalação limpa, organizada, separando ao máximo cabos de áudio de cabos elétricos, identificando adequadamente os cabos e equipamentos, não utilizando comprimentos exagerados e ocultando ao máximo os cabos. Sem uma boa instalação é impossível conseguir-se uma boa e duradoura qualidade de som. Reforçando: devemos tomar todo o cuidado com a instalação do equipamento para garantirmos o melhor de sua qualidade sonora e de sua vida útil. Jamais economize com cabos, plugues, ou adequação da instalação elétrica. A melhor qualidade de som não está em equipamentos caros e sim na boa instalação e na boa utilização dos equipamentos.
4.2. Regulando o Equipamento
Instalado o equipamento chegou a hora de o regularmos para se extrair o máximo rendimento. Vamos ver apenas o básico e começamos pelo mais importante que é a equalização. Vamos tratá-la de maneira que possamos fazê-la bem, mas com um mínimo de recursos. Juntamente com a equalização vamos ajustar também os “volumes” das potências.
É importante saber, antes de começarmos a equalização, que há uma característica de nossa audição muito fácil de comprovar, mas que sempre passa desapercebida. Nós passamos a ouvir as frequências mais baixas a partir de uma certa intensidade, portanto, quando começamos a aumentar o volume, iremos ouvir primeiro os sons médios e agudos e, depois de um certo ponto é que começaremos a ouvir os graves.
O procedimento para a equalização é o seguinte. Primeiro, ligamos um aparelho de CD na mesa de som. Escolhemos um ou mais CDs bem gravados e que conheçamos bem. Deixamos o canal da mesa flat, com o volume em 0dB e ajustamos o ganho de maneira que os trechos mais fortes da música atinjam 0 dB no VU da mesa (solo do canal). O master da mesa também deve estar em 0 dB. No equalizador deixamos os canais em in e o ganho inicialmente no zero. No equalizador, deixamos seus canais em in e colocamos todos os controles de frequência no meio (flat) e podemos cortar (abaixar todo) o controle de 20Hz se houver e, caso seus falantes de graves sejam de 15", corte também os de 25 e 31Hz, se houverem. Para retornos, com o falantes de 10”, ou 12”, podemos abaixar todos os controles antes dos 60Hz, ou até os 100 Hz. Os equalizadores têm geralmente 15, 30 ou 31 faixas de ajuste por canal, por isso alguns equalizadores não terão todas as frequências especificadas aqui. Se houver um botão para ajuste do ganho dos controles, deixe-o na posição de menor ganho. Podem haver também filtros para a máxima e mínima frequência que o equalizador trabalha (HPF e LPF), deixe o LPF em 20 kHz e o HPF a partir da última frequência que foi cortada (20 ou 31 Hz).
Os “volumes” das potências devem ficar no máximo. Caso o som esteja alto demais, abaixe os atenuadores, até obter o volume desejado. Caso o som ainda esteja baixo, você pode aumentar o ganho do equalizador, mesmo que necessite colocá-lo no máximo. Esse “volume” da potência, na verdade é apenas um atenuador. As potências não amplificam mais ou menos quando mexemos nele, elas amplificam sempre igual. Quando regulamos os atenuadores, diminuímos o sinal que chega na potência, fazendo com que ela tenha menos sinal para amplificar, por isso o volume é menor. Podemos atenuar de todo o sinal de entrada até deixar passá-lo totalmente. Portanto, não há nenhum problema em deixar as potências no máximo.
Equalize cada lado do PA por vez e depois repasse os dois lados juntos. Equalize cada via de monitoração (retorno) por vez (só o monitor sem PA) e repasse todas juntas. No final abrimos tudo, PA e monitores para vermos se está tudo legal e repassar o volume de cada um. Na equalização devemos ouvir o som de maneira direta, sem obstáculos, mesmo que para isso tenhamos de nos deslocar de onde está o equalizador. Nosso objetivo é obter o máximo de qualidade e nitidez.
Provavelmente perceberemos que os PAs e retornos não estão perfeitos, precisamos então ajustar os controles de frequências do equalizador em busca do melhor som possível. Podemos nos orientar pelo seguinte:
O controle próximo de 60 Hz pode ser usado para cortar ruído elétrico, junto com o de 80 Hz influenciam bumbo e contra-baixo; as vozes, guitarras, a parte superior do teclado e a maior parte dos instrumentos musicais estão nas frequências médias, entre 0,4 a 4 kHz; os controles a partir de 5 kHz lhe proporcionam clareza e nitidez ou, quando em exagero, excesso de sibilância (éssss, ésssse); as frequências abaixo de 250Hz atuam em instrumentos graves e também em baixos vocais, podem dar o peso necessário, mas quando em excesso abafam o som. A frequência de 125 Hz costuma amenizar ruídos de P e B. Quando as frequências médio-agudas ou agudas estão muito altas o som pode apitar (microfonia), a solução é atenuar essas frequências.
É comum reforçarmos um pouco as frequências mais altas, devido à nossa dificuldade de ouvi-las, porém, com algumas combinações de ambiente, equipamentos e caixas, pode ocorrer radicalmente o contrário. Se existir diferença de volume entre os lados do PA devemos atenuar o ganho do equalizador no lado mais forte até que ambos se igualem.
Durante a equalização devemos utilizar músicas mais suaves e músicas mais pesadas e quando terminarmos é interessante repassar tudo com um bom microfone para fazer-se os pequenos ajustes que ainda forem necessários. Para saber se a equalização está bem feita é simples, abaixamos o master até um volume mínimo, devemos ter nitidez no som, mesmo apesar do volume baixo. Aumentamos o master, passando do zero até ficar consideravelmente alto, o som não pode perder nitidez e começar a “embolar” todo. Dois conselhos finais para a equalização: É sempre melhor atenuarmos as frequências que estão sobrando do que reforçarmos as que faltam. Procure manter sua curva de equalização (o desenho formado após o ajuste) o menos forçada possível, se a curva estiver quase flat melhor.
A equalização não é para ser mexida a qualquer hora, ela é fixa, pelo menos na imensa maioria do tempo. A equalização da mesa sim é para usarmos a nosso bel-prazer.
O ajuste básico de compressores para PA ou side é:
Threshold: comece com 0dB e ajuste para começar a comprimir próximo dos picos de sinal de entrada; em alguns compressores com VUs coloridos, quando ele entrar no amarelo.
Ratio: a taxa mais comum para esse tipo de aplicação é de 4:1, ou 3:1.
Attack e Release: pode-se deixar automático ou experimentar sua própria configuração, quando bons pontos de partida são entre 5 e 50ms para attack e cerca de 500ms para release.
Output: deve ser utilizado para compensar eventuais perdas de volume com a compressão, ou quando for preciso conseguir um pouco mais de som. O ponto de partida é 0dB.
Selecione a curva de compressão mais suave e macia e, para aplicação em PA ou side, se o compressor estiver em estéreo "linke" os dois canais.
A maneira mais usual de se regular o noise gate, também para PA ou side, é “abrirmos o som”, isto é, levantar os volumes, inclusive os microfones, e ouvirmos o ruído existente. Ajustamo então o threshold do gate até que ele feche. Qualquer sinal que passar do nível de threshold fará com que o gate abra, deixando o sinal passa normalmente. Para PA e side costumamos usar tempos de acionamento de médio para lento.
Quando nosso sistema utiliza crossovers, eles devem ser ajustados antes do equalizador. Isto porque o ajuste da frequência de crossover, ganho de graves e de médio-agudos, já são na prática uma equalização. Para ajustarmos a frequência de crossover devemos considerar a resposta da caixa, que podemos obter em catálogo ou manual do fabricante, ou com o revendedor. No caso de graves, essa frequência costuma estar entre 100 e 300Hz e para sub-graves entre 40 e 80 Hz. O ouvido deve “dar a última palavra” para julgar a frequência correta. O reforço, ou atenuação, de cada via deve ser ajustado para obter uniformidade no som da caixa. Esse ajuste fará com que o equalizador seja mantido mais próximo do flat.
Ajustado o equipamento é bom anotar a regulagem e guardar em um lugar seguro e ao mesmo tempo de fácil acesso, para quando for necessário arrumá-la ou refazê-la. Agora estamos prontos para aprender um pouco sobre a operação.
4.3. Operação
Para sermos bons operadores de som precisamos de experiência; prática, prática, prática... Existem alguns pontos básicos e até alguns segredinhos que irão ajudar muito e que apresentamos a seguir.
Ao ligar o equipamento, comece pelo filtro de linha, depois a mesa, os periféricos em ordem, ou seja, primeiro os equalizadores, depois os compressores, etc. E, por fim, os amplificadores. Na hora de desligar, siga a ordem inversa, desligando primeiro os amplificadores, depois os periféricos, depois a mesa. Isto evita que os picos de sinal produzidos na saída dos equipamentos prejudiquem os equipamentos que estão ligados na sequência. Isso inclui também aqueles “estouros” nas caixas de som na hora de ligar o equipamento.
Os ajustes de equalizadores (PA e retornos), crossovers e delay são basicamente fixos, após regulados devem ser mantidos e conferidos, isto sim, sempre que operarmos o som. Já nos compressores e noise-gates mexemos um pouco de acordo com a necessidade.
Controles de ganho e volume na mesa nunca ficam no máximo, pois nessa condição o sinal é distorcido. O master costuma ficar estacionado em 0dB quando a mesa nos permite usar mais do que esse valor, ou um pouco abaixo quando o limite for o 0dB. Se estivermos precisando abaixar o volume de todos os canais ou aumentar, é sinal que precisamos mexer no master ou em algum outro equipamento para atenuar ou reforçar o sinal, o controle output do compressor pode ser uma boa saída quando precisamos reforçar o sinal.
E agora vai um segredinho: a relação entre ganho e volume nos canais. Devemos procurar trabalhar com os volumes de cada canal em torno do 0dB e ajustarmos o ganho para isso. Quando estamos colocando muito ganho, aumentamos um pouco mais o volume do canal. Quando estamos com o ganho muito baixo, a não ser que estejamos com sinal de linha onde o ganho geralmente é mínimo, abaixamos o volume do canal e aumentamos um pouco o ganho. Portanto o segredo é buscar o equilíbrio entre ganho e volume no canal, o que garante a melhor qualidade do sinal e, por consequência, do som.
Quanto a equalização valem as dicas que já foram colocadas, especialmente o parágrafo que fala sobre a atuação de cada frequência. Os ajustes de graves das mesas costumam atuar na frequência de 80 ou 100Hz e os agudos nas de 10 ou 12kHz. Os médios muitas vezes possuem a frequência ajustável, são os chamados semi-paramétricos ou sweep, e ajudam bastante nosso trabalho. Os filtros HPF devem ser utilizados sempre, com exceção da utilização de aparelhos de CD, decks e rádio, direct-boxes (teclados e contra-baixos) e bumbo quando utilizando microfone específico; se bem que, mesmo no caso de microfones de bumbo, algumas vezes é conveniente utilizar o filtro HPF.
Ao aumentarmos o ganho do canal permitimos que os microfones captem o som mais longe, assim quando uma pessoa está utilizando um microfone, aumentando o ganho permitimos que ela fale mais longe dele; porém, ganho demais, ou agudo demais, são duas das causas da nossa arquiinimiga microfonia.
A microfonia é provocada pela realimentação do som, isto ocorre quando o som que sai na caixa acústica é captado novamente no microfone; daí saindo novamente na caixa acústica e retornando ao microfone, com o som retornando à caixa acústica e voltando ao microfone... Nesse processo o volume vai aumentando, aumentando, começa aquele zunido, até chegar no apito irritante e destruidor de tweeters, drivers e ouvidos, que é a microfonia. Portanto a microfonia mais comum é causada por um ou mais microfones captando o som que está saindo em alguma caixa acústica. As soluções, de acordo com o caso, são afastar o microfone da caixa ou, caso esteja apontado para a caixa (vocais com microfone de mão) mudar sua posição, ou diminuir o ganho do canal, ou o volume, ou ainda fazer tudo isso.
Para cortar momentaneamente a microfonia pode-se fazer uma jogada rápida de volume no canal específico ou no próprio master, abaixando-o um pouco e voltando-o para a posição original bem rápido (menos de 1 segundo), isto também funciona para evitar que a microfonia aconteça quando começa aquele zunido típico.
Outra causa de microfonia é quando o palco treme, então os microfones que estão nos pedestais podem provocar uma microfonia um pouco diferente, com som grave e que vai começando como um ronco. Para eliminá-la devemos atuar nos controles de grave, volume e sensibilidade dos canais, e também é importante firmarmos bem as bases dos pedestais de microfone, sem ficar com elas totalmente encostadas no chão.
Algumas mesas de som, nos volumes de cada canal, monitores e master, possuem dois estágios; no primeiro regulamos o volume até o centro, marcado com U ou 0, ou seja, regulamos desde a ausência do som até a intensidade de entrada (na posição U/0); do centro até o máximo é adicionado um ganho extra ao sinal. Da mesma forma na equalização, onde até o centro temos atenuação, no centro o ponto neutro e, após, reforço na faixa de frequência correspondente.
Não mixe pelo fone de ouvido pois, o que ouvimos nele é bem diferente do que ouvimos no PA. O fone pode ser usado para identificar o que, ou quem, está em cada canal; para detectarmos problemas e para repassar a equalização em cada canal, ajustando algum detalhe depois que tudo já esteja arrumado. O fone deve ser uma ferramenta e não uma “muleta”, não se torne dependente de fone para mixar e se isto estiver acontecendo é melhor esconder seu fone por algum tempo.
Quando colocamos música de CD, ou fita, é de bom gosto começar a aumentar o volume lentamente, o que chamamos de fade in e no término da música abaixarmos o volume lentamente, fade out. Este recurso é muitas vezes utilizado em mixagens de fitas e CDs, ora feito pelos próprios músicos, ora feito na mixagem pelo operador. Muitas vezes podemos utilizar o fade com música ao vivo mesmo.
E por fim a essência da mixagem, um princípio da qualidade total: "um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar". Essa frase do programa 5S é a essência da boa mixagem. Cada instrumento e cada voz têm o seu lugar e a mixagem consiste em deixar cada coisa no seu lugar, ajustando o ganho e o volume para que aquela voz ou instrumento apareça o quanto precisa aparecer e, ajustando a equalização para que apareça com o som que deve aparecer. Assim o resultado será uma boa mixagem, ou seja, um bom som.
4.4. Manutenção
Toda instalação de sonorização requer cuidados para que sua qualidade seja mantida. Muitas vezes é difícil implantar uma cultura de manutenção preventiva, mas ela é sempre mais rápida, menos trabalhosa e mais barata que a manutenção corretiva, aquela quando o equipamento pifou.
Um cuidado básico para a conservação do equipamento é simplesmente cobri-lo. Ter uma flanela sempre a mão também é recomendável.
De tempos em tempos, “desde que curtos”, deve ser feita uma manutenção preventiva básica, onde, além da flanela, entrem em cena alguns panos umedecidos com detergente neutro (umedecido e não molhado), para a limpeza dos equipamentos. Aproveite para desconectar todos os cabos, e limpá-los. Pode-se passar silicone neles. Limpe as espumas que protegem as ventoinhas dos amplificadores. Inspecione os cabos e conectores e refaça, ou substitua, os que não estiverem bons. Enfim, limpeza, verificação e pequenos consertos.
A cada semestre, peça a ajuda de um técnico ou operador bem experiente para uma manutenção mais aprofundada. Essa manutenção deve incluir a limpeza interna dos equipamentos, caixas e cabeamento, inclusive as medusas; aproveite para fazer uma limpeza externa mais cuidadosa também. Deve-se checar o perfeito funcionamento de cada equipamento. Pode ser necessário limpar potenciômetros e botões, o que pode ser feito com um spray específico, ou requerer o trabalho de um técnico. Verifique também a instalação elétrica, a impedância das caixas acústicas e a fixação das mesmas. Troque as espumas dos microfones (wind screens) e, eventualmente, as dos filtros das ventoinhas. Após terminar a manutenção e religar o equipamento, aproveite para verificar novamente a regulagem.
4.5. Treinando a Audição
Para ser um bom operador de som é preciso ter uma boa audição, mas sobretudo uma audição bem treinada. Podemos treinar nossa audição seguindo algumas dicas simples, ensinadas muitas vezes em escolas de música. Nosso objetivo é conseguir identificar e separar cada voz e instrumento em meio a vários outros. Além disso precisamos conhecer cada estilo musical e suas características sonoras. Vamos adquirir também um pouco de senso crítico e começar a moldar nosso próprio estilo de operação de som.
Comece colocando duas ou três fontes de som ligadas ao mesmo tempo. Podem ser três rádios em estações diferentes. Deixe um deles num volume um pouco maior que os outros. Concentre-se no som produzido por ele de maneira a entendê-lo, isolando o som em sua mente, sem se preocupar com os outros rádios, como se os houvesse desligado. Quando conseguir fazer isso, coloque os rádios todos no mesmo volume e comece a tentar isolar o som de cada um, é difícil no começo, mas não é nada impossível.
Praticado o exercício anterior, vamos passar ao CD ou outra fonte sonora de boa qualidade que você tenha acesso. Vamos começar a ouvir diferentes estilos, observando quais instrumentos mais se destacam e quais são mais exigidos em cada estilo. Abaixe totalmente o volume de seu aparelho de som e comece a aumentar lentamente até que consiga ouvir baixos e bumbos com definição. Procure separar cada instrumento em sua mente, desligando os outros instrumentos; faça a mesma coisa com as vozes. Associe o som dos instrumentos com seus nomes, mesmo que você tenha que pesquisar para descobrir. É importante que um operador de áudio conheça os instrumentos musicais, seus nomes e seus timbres. Em tempo, o estudo dos instrumentos musicais recebe o nome de organologia. Comece com músicas que tenham poucas vozes e instrumentos e vá aumentando a dificuldade de seu treinamento, até chegar a orquestras e grandes bandas.
Comece a criticar o que está ouvindo, o que você “mixaria” diferente? O que não ficou legal? O que ficou muito bom? Será que podemos encontrar algum erro de mixagem? Essas críticas lhe ajudarão a determinar seu estilo de mixagem. Não há um único jeito de mixar. Cada operador tem seu jeito e deixa a mixagem com sua cara. Tenha personalidade. O que é necessário é que sua mixagem seja correta e coerente com o estilo musical e o público, que as vozes tenham clareza e que a audição não seja prejudicada por falta ou excesso de volume. Continue exercitando sua audição e não pare jamais, a não ser que queira parar com áudio.